Flagelo russo |
“Disposto a espalhar uma farsa?”: nos laboratórios de Sputnik e Russia Today Posted: 08 Oct 2017 01:30 AM PDT
O jornalista americano Andrew Feinberg recolheu uma alucinante experiência nos poucos meses que trabalhou para os órgãos de imprensa mais mimados pela guerra psicológica russa: a agência Sputnik e Russia Today, segundo relatou a "Slate". Andrew sabia da baixa reputação jornalística desses instrumentos putinistas, mas ansiava conseguir um posto como correspondente na Casa Branca. Fez então uma tentativa na "RIA Global", propriedade da Sputnik. Porém, como não quis dobrar-se à mentira planificada, foi posto na rua cinco meses depois. Na entrevista prévia ao emprego a pergunta de Peter Martinichev, chefe do escritório da agência moscovita em Washington, soou como uma rajada de Kalashnikov: "O que o senhor estaria disposto a fazer se nós lhe ordenarmos escrever uma coisa que não é verdade?" Andrew ficou gelado, pois podia perder o ansiado posto. Mas sua consciência não permitiu: "Eu renunciaria", disse. O abacaxi ficou do lado do recrutador russo, que poderia ser denunciado caso se recusasse a admiti-lo. Então o contratou. Andrew começou a trabalhar em janeiro de 2017. Desde o primeiro dia ele percebeu que a pergunta não foi um mero teste. Seus chefes russos Peter Martinichev e Anastasia Sheveleva passaram a lhe pedir serviços contrários à ética jornalista americana, que já não é muito respeitosa da verdade. Durante uma conferência de imprensa, Andrew perguntou ao porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, por que Trump não enviava armas à Ucrânia para sustentar esse país diante da agressão russa.
O lema da Sputnik é: "Dizer o que não é dito". Mas Andrew logo entendeu o seu significado: que o jornalista deve se alinhar com a posição oficial proveniente do Kremlin. "Aquilo que Sputnik publica deve acertar o passo com o lado da Rússia, esteja ou não de acordo com a verdade", sublinhou. Num e-mail, o chefe Martinichev ordenou-lhe nunca mais fazer pergunta na Casa Branca que não fosse aprovada pelos superiores russos. Desde então, cada pergunta que ele submetia aos chefes de Sputnik voltava com sentido contrário. Após os ataques americanos às bases dos bombardeiros sírios, responsáveis por despejar gás sarin sobre hospitais civis, matando inúmeras crianças, Andrew voltou a submeter suas perguntas. Martinichev lhe respondeu que elas já estavam respondidas em um artigo de Russia Today que difundia a posição oficial do Kremlin, e que, portanto, não vinham ao caso. Uma vez ou outra suas perguntas eram jogadas na lixeira e substituídas por outras aberrantemente enviesadas para servir à máquina de propaganda russa. O jornalista passou a formular suas indagações na Casa Branca com pavor de ser filmado e ser pego pelos chefes. Por fim, ele se rendeu à evidência. Enquanto trabalhasse para Sputnik não poderia visar à verdade. Só poderia contribuir para difundir a desinformação gerada em Moscou.
Andrew respondeu que "se sentiria muito mal" em fazer tal pergunta, pois "não havia base alguma nos fatos que pudesse justificá-la". O chefe de Sputnik o demitiu na hora. Mas Andrew saiu aliviado e mandou um tweet aos seus seguidores: "Não trabalho mais para a Sputnik. Eu adoraria explicar por quê. Não hesitem em me contatar". Na reportagem "Minha vida na rede de propaganda russa" ele contou para a revista "Politico" tudo o que sofreu. Um de seus chefes, um macedônio de nascença chamado Kovach, tinha experiência em propaganda de guerra. Ele e os russos tinham uma agenda própria "que nem sem sempre incluía toda a verdade". Andrew percebeu que o lema de Sputnik "Dizer o que não é dito" significa na realidade "não dizer a verdade", alegando tratar-se de uma "visualização alternativa". Sputnik o havia engajado para usá-lo como um agente não russo e, assim, fazer passar as palavras de ordem provenientes de São Petersburgo. |
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